Teurgia é
uma palavra de origem grega que pode ser traduzida como obra divina
(theoi–Deus e ergein-obra) e faz referência a uma
modalidade de magia cerimonial que busca através de práticas como
orações e rituais incorporar uma manifestação divina no
praticante; além de uma aproximação pura e profunda com a
divindade em questão.
Teurgia
na História
Embora
a palavra Teurgia tenha
sido aplicada apenas a partir da era romana, as primeiras referências
sobre sua prática encontram-se em aproximadamente 10.000 a.C entre
os orfistas (adeptos do orfismo – doutrina grega que pregava uma
continuidade paradisíaca da existência após a morte) chegando até
aproximadamente dois séculos antes da era cristão, quando o texto
do Oráculo
dos Caldeus especificou
instruções distintas para a prática e exercício da Teurgia.
Filósofos
neoplatônicos promoveram a Teurgia como uma prática intimamente
associada à natureza transcendental. Durante o império bizantino
foi citada por Georgios Pletho e Michael Psellus através de
referências do Oráculo
dos Caldeus.
Já na era medieval a Teurgia perdeu sua visibilidade e retornou
apenas na renascença através de Cornelius
Agrippa, entre outros ocultistas. Nos idos do século XVIII,
ganhou notoriedade através de Martinez de Pasqually; posteriormente,
rituais teúrgicos foram publicados por Amadou e Ambelain.
Louis
Claude de Saitn-Martin, discípulo de Pasqually, através das bases
estabelecidas por seu mestre, desenvolveu seu próprio sistema
teúrgico e declarou que "Teurgia
não é apenas um presente de Deus ao Homem, é uma responsabilidade
a qualquer um, desde que sinta o verdadeiro desejo da realização em
seu coração; pois Deus oferece ao Homem a oportunidade para
ascender tal sentimento em seu coração".
Ritualização
Sob uma
definição mais simplista, pode-se compreender que o ritual teúrgico
é a manifestação interior do homem através de palavras, orações,
meditações e de um desejo intenso de estar associado a Deus.
Segundo seus
praticantes, o exercício do ritual teúrgico atinge vários níveis
da existência humana como o plano psicológico e, obviamente, o
espiritual, através da harmonia plena com Deus. Porém, a
transcendência do homem de sua natureza humana é o aspecto mais
significativo a ser considerado.
A cerimônia
teúrgica oferece ao praticante a liberdade de compor seu próprio
ritual de acordo com os princípios legítimos da espiritualidade.
Entretanto, pode-se compreender que há uma estrutura central que
estabelece algumas noções básicas.
Assim, de
acordo com os preceitos teúrgicos, admite-se que a inspiração que
motiva o ritual é de origem divina e o homem é o praticante (agente
operador) que age em cooperação com a divindade. O sacramento da
sagrada sacristia é essencial ao praticante; ou seja, o cerimonial é
impraticável se o indivíduo não aceitar em seu espírito a força
presente de Deus.
Partindo
deste princípio, passa-se aos requisitos básicos que são a
motivação, modo de vida e condições ambientais (localidade, clima
etc). Em seguida, adota-se quatro virtudes como bases do "templo
interior": pureza, amor, fé e remissão. Finalmente, é
necessário o estado de oração interior e a manifestação da
nipsis (autocontrole da consciência que liberta o espírito de
obsessões).
A
ritualização efetiva exige uma mesa coberta com um tecido branco
(que exerce a função de altar), velas, cruz, incenso, palavras e
gestualização do praticante; além do novo testamento expondo o
primeiro capítulo do Evangelho de São João.
O início
ocorre com o ato de contrição e a expressão do arrependimento
seguido da invocação do anjo guardião. Em seguida, passa-se aos
louvores e à glorificação; além da verbalização das orações.
Finaliza-se com a operação específica (um pedido de cura ou
consagração de objetos, por exemplo) e a expressão da gratidão.
Teurgia
& Religiões
Sob um ponto
de vista mais amplo, pode-se compreender a Teurgia como uma
referência básica de ritualização e cerimoniais que se encontra
presente em inúmeras doutrinas e religiões. Sua estrutura
ritualística, com uma ambientação específica, instrumentos,
meditações e verbalização de determinadas orações são
encontradas inclusive na liturgia cristã; bem como nas doutrinas
neopagãs e religiões orientais.
Portanto,
mais que uma prática mágica cerimonial, a Teurgia oferece uma
estrutura ritualística simples que se pode aplicar à doutrinas mais
distantes entre si e ao mesmo tempo profunda, pois se sustenta na
espiritualidade humana e no desejo constante de interagir com a
divindade e, de certa forma, divinizar-se também.
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